Capoulas Santos, Costa da Silva e João Oliveira protagonizaram acesa discussão acerca dos resultados eleitorais das últimas eleições legislativas e de quem deve ou não constituir governo em Portugal.A conversa decorreu no debate que o ‘E’ promoveu na Cadeia Quinhentista e que agora lhe trazemos em primeira mão.

Capoulas Santos – Considero até insultuoso tratar-se a atual situação política como se de um golpe de estado, como se de uma usurpação se tratasse, porque se trata do escrupuloso cumprimento das regras da Constituição e aquela questão que foi hoje aqui invocada mais uma vez – a tradição. A partir de agora, se houver um governo com uma composição parlamentar diferente, passa a ser incorporada na tradição. O que se assistiu pateticamente nos últimos dias foi ao apelo desesperado da direita para que o PS, que lutou contra ela na campanha eleitoral, viesse agora a suportá-la, transformando-se na muleta do governo. Isso seria absolutamente inaceitável para os eleitores do PS. Portanto, a tradição, a partir de agora, se o PR, como espero e penso que não tem alternativa, nomear o António Costa, esta fórmula de um governo à esquerda passa a fazer parte da tradição.

Costa da Silva – Vou tentar provar que existe aqui um conjunto de contradições gigantescas. A primeira é que, ao contrário deste discurso, nomeadamente em relação ao PS, embora o PC lhe dê muita ênfase, de que estamos a escolher efetivamente 230 deputados, essa é uma realidade incontestável, mas António Costa, quando se candidatou a Secretário Geral do PS e quando fizeram as diretas no PS, elegeram o candidato a PM.

Capoulas Santos – Os socialistas! Como os comunistas elegeram o Jerónimo Sousa candidato a PM e os outros a mesma coisa!

Costa da Silva – Aí é que está a fraude. A fraude é da vossa parte, porque aquilo que é apresentado ao eleitorado, que subliminarmente qualquer cidadão português entende, é que está efetivamente a eleger o PM, apesar de nos eleger a nós aqui localmente, a sua primeira opção de voto é na escolha de um PM.

João Oliveira – Em que boletim de voto é que isso aparece?

Costa da Silva – Não aparece em boletim nenhum, mas se perguntar a qualquer português, antes de votar em mim, antes de votar em vocês, votaram nas nossas lideranças.

Capoulas Santos – Na nossa liderança, no nosso programa de governo, nos nossos candidatos…

Costa da Silva – A fraude eleitoral começa aí, precisamente quando se apresenta um candidato, aquilo que as pessoas escolhem como primeiro candidato, neste caso Pedro Passos Coelho e depois começam a verificar que isso não vai acontecer. Para as pessoas, para o cidadão comum, é essa a realidade, mesmo cidadãos que são do PS, que são do PC, estão estupefactos com tudo o que se está a passar.
As pessoas escolheram, sabem quem querem para PM e fizeram uma escolha muito clara e na perspetiva do cidadão comum estão estupefactos com o que se está a passar, porque Pedro Passos Coelho está a ser impossibilitado de governar. O que seria natural seria a coligação PàF governar.

Capoulas Santos – Mesmo contra a Constituição?

Costa da Silva – Não contra a Constituição.

Capoulas Santos – O que é normal é que um governo seja constitucionalmente investido e o senhor está a querer governar contra a Constituição.

Costa da Silva – Vocês até disseram que era uma perda de tempo o PR indigitar o Pedro Passos Coelho.

João Oliveira – Sem dúvida! Como se está a confirmar!