A notícia chegou fria e inesperada. Morreu o André Albardeiro. A Redação do ‘E’ ficou incrédula. Morreu um Amigo., morreu um jovem, cuja alegria contagiante, disfarçava o grande exemplo de vida que sempre foi. Desapareceu um lutador. O André não merecia sair tão precocemente da vida que amava. Nesta hora triste, deixamos o nosso profundo e consternado lamento. Até sempre, André.
Em jeito de homenagem publicamos a entrevista que André Albardeiro, concedeu ao ‘E’, em janeiro de 2012.
Em 2004, André Albardeiro tomou conhecimento que padecia dum Mieloma Múltiplo. Saber que tinha cancro logo após a morte do pai deixou o estremocense em choque mas não resignado. O relato que trazemos a público é a história do homem que nunca desistiu de viver e que demonstra que é possível lutar contra a doença. Diz o André que vale a pena viver a vida nem que para isso “tenha que arregaçar as mangas e, de cabeça erguida, ir à luta”. Passados oito anos, eis o testemunho impressionante de determinação e de coragem que deve servir de exemplo para ajudar a vencer os outros desafios que a vida nos coloca.
E – Falar de doenças graves não é agradável e parece ainda existir muito “tabu” à volta deste problema, mas o testemunho pessoal pode ajudar os outros a vencer a doença. Concorda?
André Albardeiro (AA) – Concordo plenamente. Sem sombra de dúvidas, que falar deste tipo de doenças graves, como o “Cancro” que é o meu caso, ainda seja alvo de “tabu”, há um receio e medo muito grande de abordar este tema, quer por parte do doente, quer por parte das pessoas que o rodeiam. Mas creio que a voz e o relato de quem já passou por este tipo de situação, pode inspirar muito e dar força e coragem a vencê-la. Desde que o testemunho pessoal seja de alguém com um pensamento positivo, porque cada caso é um caso, e se vamos ouvir as histórias derrotistas e casos de pessoas que baixaram simplesmente os braços e disseram não à vida, a única coisa que nos vai fazer é piorar o nosso estado.
E – Conte-nos o seu caso pessoal?
AA – Foi em 2004, após falecer o meu avô e um mês depois falecer o meu pai também de cancro, que me foi diagnosticado o mieloma múltiplo.
Foi um choque muito grande, com apenas 24 anos e a terminar a licenciatura em Ed. Física e Desporto que tive de fazer várias sessões de quimioterapia, mas nunca desisti, e já acabei a minha tese no hospital. Uns meses depois fui transplantado (auto-transplante medula óssea) e
ainda fiz até há uns meses atrás algumas sessões de quimioterapia para ir adormecendo o cancro, visto que não tem cura.
E – Como é que lidou com os primeiros momentos em que tomou conhecimento do que lhe tinha acontecido?
AA – Foi uma revolta muito grande, uma raiva imensa, e de seguida surgem os porquês. Logo a mim porquê? Fiz mal a alguém? Eu nem fumo! Nem bebo álcool! Faço tanto desporto! É injusto! Mas também ninguém disse que a vida era justa, apenas disse que ia valer a pena vivê-la! E confesso que foi assim que fiz, cabeça erguida, fui à luta. Muitas vezes sem força, fraco, branco e sem cabelo, com as lágrimas nos olhos nem conseguia comer, pois tinha o organismo todo ferido por dentro, mas tinha de ser, tinha de comer e buscar força nalgum lado. E os anos foram passando, já lá vão quase 8 anos.
E – Que tipo de pessoa era o André e como o podemos descrever agora depois da doença?
AA – Infelizmente o cancro fez-me crescer interiormente, e dar mais valor a cada dia que passa, quase como uma bênção. Continuo a mesma pessoa alegre e bem-disposta de sempre, mas agora mais ponderada e tolerante. Hoje depois de todo este trajecto, olho para trás e vejo que entre momentos muito maus e complicados, valeu o esforço e sofrimento dos dolorosos tratamentos e hoje sinto-me mais forte e confiante para enfrentar a vida.
E – A doença alterou o seu dia-a-dia?
AA – No inicio dos tratamentos alterou, principalmente durante o transplante, pois tinha de estar isolado, não tinha defesas, e uma simples constipação podia ser o meu fim. Depois a pouco e pouco fui fazendo a minha vida normal, embora depois das sessões de quimioterapia ficasse sempre um pouco mais abatido. Entretanto um dia de cada vez, e vivendo-o ao máximo.
E – Como reagiu a família, os amigos, enfim as pessoas mais próximas quando tiveram conhecimento do problema?
AA – Claramente com tristeza, mas sempre com muito apoio, com muito espírito de ajuda e essencialmente com amor, o que ajuda muito. Quando sentimos que temos pessoas que gostam de nós e estão ali para nos apoiar, torna-se tudo bem mais fácil, quer família, quer amigos mais próximos, para eles aproveito para agradecer mais uma vez ao fim destes anos todos, que nunca é demais e daqui amanhã podem eles precisar de mim.
E – Que experiência pode relatar dos cuidados médicos a que teve acesso?
AA – Muito bons, quer em Évora no hospital, quer em Lisboa no IPO. Fui sempre tratado com muito profissionalismo e com muita atenção e carinho. Uma palavra de agradecimento para toda a equipa de oncologia OBRIGADO.
E – E agora André, como estão as coisas?
AA – Em tom de brincadeira, os médicos dizem que tenho um cancro alentejano, muito lento, ou seja, ele na realidade está adormecido, e de vez em quando dá sinal, e lá vai uma sessão de quimioterapia para o abrandar, de resto está tudo bem, honestamente tento não pensar muito, porque sei que não me vai adiantar de nada, quero viver o presente sem pensar muito no futuro.
E – A ideia que passa é que o André é uma pessoa altamente positiva que não se deixa abater. Será que esse estado de espírito contribuiu para que o desfecho seja tão favorável?
AA – Não tenho dúvidas, e vou aproveitar uma frase que tento sempre seguir, na vida só é vencido, quem deixa de lutar. Espero que a minha história de vida sirva efectivamente para encorajar alguém que tenha ou esteja a passar por momentos menos bons, sei que falar é fácil, mas falando na primeira pessoa, vale a pena lutar e acreditar. A vida é demasiado boa para se desistir dela.
E – Que mensagem deixa aos nossos leitores?
AA – Penso que não vou dizer nada de novo, mas já que me foi dada a oportunidade de deixar aqui uma mensagem, espero vivamente que possa ajudar alguém. Sou apenas um jovem com espírito lutador, irrequieto por natureza e muito positivo, faz parte de mim, e que me ajudou em muito a superar a doença grave que tenho. Por isso vivam a vida e aproveitem-na ao máximo, cada dia tem de ser bem vivido, não percam tempo pois a vida é demasiado curta, divirtam-se, mesmo com a crise ou com a doença ou com qualquer outra situação menos boa, há que ser positivo e proactivo, este é o meu lema de vida.
Custa acreditar …. pois o André sempre transmitiu a todos os que o rodeavam … ser forte, firme, confiante… à prova de quase tudo … mas ninguém é!
O André foi e será sempre um lutador e um vencedor! Venceu muitas batalhas … mas às vezes é só perder uma… e perdemos a Guerra! 🙁
Muitas vezes falámos e nos apoiámos nas nossas Guerras.. apoios e incentivos mútuos … e era sempre motivador conversar com ele, fosse de que tema fosse, até mesmo da sua doença. Muito positivo e com esperança ….. ia fazendo a sua vida como muitos nunca conseguirão fazer… Sempre o estimei muito e sei que ele também tinha a mesma estima por mim ….
… sempre o vi com um sorriso e vontade de dar mais qualquer coisa a alguém … nem que fosse apenas uma piada e a sua boa disposição constante!
Penso agora na sua mãe, irmão e familiares …. pois também já passei pela doença… também já sou pai ….. 🙂 e sinto aquilo que sentia quando estive hospitalizado e frágil….. apenas podemos assistir, sem nada poder fazer …. por um filho, por um irmão…. 🙁
Até sempre ..
Teu amigo Tonho
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