O estremocense Hugo Calhordas faz parte dos 40% de população adulta que tem medo de andar de avião. Em entrevista ao ‘E’, o empresário contou-nos como este medo começou, os episódios mais engraçados, as implicações na vida pessoal e profissional e como ele, juntamente com a sua empresa, conseguiram solucionar o problema.

 

‘E’ – Quando é que percebeu que tinha medo de andar de avião?
Hugo Calhordas (HC) – Nunca me senti muito confortável desde inicio a andar de avião. Logo nos primeiros voos que fiz foi sempre muito desconfortável e nalguns tive ajuda de comprimidos. O medo apoderou-se realmente de mim quando fiz um voo para Amesterdão. Foi um voo muito complicado que até pessoas que se sentiam à vontade a andar de avião sentiram desconforto. A partir deste momento o medo tornou-se insuportável. Depois deste episódio ainda fiz um voo à Grécia em que me senti completamente desconfortável e a partir daí parou completamente.

‘E’ – Chegou a recusar viajar, conte-nos esse epiódio?
HC – Depois de irmos à Grécia, a minha mulher marcou uma viajem para Londres e quando cheguei a Lisboa para entrar no avião, deixei lá a minha mulher, o meu irmão e a minha cunhada e voltei para trás! Não fui capaz… (risos). Esta foi a primeira vez que recusei. A segunda vez, quando fiz uma nova tentativa, foi para ir a Roma e quando marquei a viagem, fiz logo com opção de desistência, para não perder o dinheiro todo da viagem. Quando faltavam dois dias para a viagem disse à minha mulher que não era capaz de ir viajar de avião e acabei por ir de carro. O pavor do avião era de tal modo grande que, em vez de fazer uma viajem de duas horas de avião, fiz uma viajem de vinte e seis horas de carro.

‘E’ – O que sentia quando tinha que entrar no avião?
HC – Sempre que entrava num avião sentia um desconforto muito grande e, por vezes, tinha mesmo o sentimento de pânico. Eu imaginava todos os cenários negativos que podiam acontecer drante a viagem. Por outro lado, a comunicação social explora sempre muito os acidentes de viação porque são muito sensionalistas e chamam muito a atenção e acaba por induzir um medo ainda maior a pessoas que, como eu, já se sentem bastante desconfortáveis. Na maior parte das vezes quando acontece um acidente, tem cem por cento de eficácia, e o meu medo passava muito por imaginar todos estes cenários.

‘E’ – E agora já ultrapassou esse problema?
HC – Foi-me proposto a nível profissional recorrer a ajuda e, neste momento já tenho este problema ultrapassado. Um dos meus grandes problemas era não saber como tudo funcionava. Neste momento não sei tudo, mas sei grande parte de como as coisas funcionam. No curso que frequentei visitei o cockpit, a torre de controle, a sala de controlo de tráfego aéreo, que são duas coisas completamente distintas. Ali tive acesso a todo o tipo de informação e percebi como tudo funciona e toruxe-me muita segurança.

‘E’ – Pelas suas palavras podemos perceber que o problema ficou resolvido depois de frequentar o curso…
HC – Precisamente. Este curso é uma formação que se faz que se chama ‘Voo sem medo’, que tem a duração de três dias e, que, no último dia faz-se um voo terapêutico a uma cidade europeia (no meu caso foi a Barcelona). Éramos dez pessoas no curso e nove fizeram o voo terapêutico e a outra pessoa não o fez apenas porque estava com problemas de saúde. Penso que todos ultrapassaram o medo, uma vez que se mostravam todos satifeitos. Naquele curso percebi que o meu grande problema era não perceber como tudo funcionava dentro do avião. Esta formação dá-nos todo esse conhecimento porque é feito com duas psicólogas e com um piloto. Ali vivemos tudo por dentro, explicam como tudo funciona, não há nenhuma pergunta que fique sem resposta.

‘E’ – Sente-se preparado para ‘grandes voos’?
HC – No princípio do ano vou fazer um voo pequeno com a minha família e segundo o que está proposto espero que a minha empresa, em abril, me leve ao Canadá a nível profissional. Este voo dura sensivelmente oito horas e já se pode considerar um voo algo longo. Sinto-me completamente preparado e só não fui agora ao Japão com a minha empresa porque tinha que dar a resposta antes do curso e, na altura, disse que ainda não me sentia capaz.

‘E’ – Que conselho deixa a quem tem medo de viajar de avião?
HC – Que viajem de avião. Neste momento consigo dizer, com toda a confiança, que é o meio de transporte mais seguro do mundo. A segurança é feita ao pormenor e, caso alguma coisa aconteça, é estudado exaustivamente para que não se volte a repetir. O desconhecido e o não saber como as coisas funcionavam é que me trazia muito medo e muito desconforto. O único problema do curso é o seu elevado preço (900 euros), mas quem tiver esta oportunidade aconselho vivamente a frequentar. Neste momento posso dizer que me sinto com vontade de voar.