Em 2016 celebra-se o 30º aniversário da classificação de Évora pela UNESCO como Património Mundial. O Fórum Eugénio de Almeida associa-se a esta comemoração, dedicando-lhe um ano de programação expositiva, bem como um conjunto de iniciativas culturais, que refletem sobre uma cidade património. A exposição Cume, de António Bolota, que pela primeira vez expõe individualmente numa instituição museológica, inicia esta programação. O Fórum Eugénio de Almeida apresenta ainda Estados de Rememoração, a primeira exposição individual de Reto Pulfer em Portugal e Michael Biberstein: Realidade Suspensa, com curadoria de Reto Pulfer.

 António Bolota começou a expor em meados dos anos 90, trazendo para o universo artístico saberes provenientes da Engenharia, área onde radica a sua formação. Um conjunto de conhecimentos técnicos são convocados na criação de esculturas que se confrontam com o espaço para onde são construídas ou que se fundem com a própria arquitetura, ou ainda, no caso desta exposição, com a própria cidade. A escala das obras, a relação com a arquitetura, a relação com o corpo do espetador, o rigor do desenho e do acabamento, bem como o recurso a materiais industriais e de construção, constituem uma gramática que remete para experiências que põem em diálogo a cultura popular da manualidade com a condição contemporânea, assim como as técnicas da escultura com as tecnologias tradicionais.

A exposição Cume, concebida especificamente para o Fórum, justapõe a escultura contemporânea com as tradições locais. Uma obra que quer refletir sobre o saber artesanal e sobre a perda das tradições, ao mesmo tempo que incita um processo de reflexão e trabalho comunitário em torno destas mesmas questões. Uma escultura monumental que reinterpreta uma tradição secular e a transporta para os nossos dias, criando uma ponte entre o passado e o presente, entre o tradicional e o contemporâneo, e mostrando esta cidade-património como um lugar vivo e em transformação.

O piso 1 do Fórum Eugénio de Almeida apresenta Reto Pulfer: Estados de Rememoração. Considerado com um dos mais promissores artistas da atualidade artística suíça, Reto Pulfer expõe pela primeira vez em Portugal num projeto que trabalha o conceito de paisagem, pintura e instalações imersivas em torno do tema da memória. Artista autodidata, Pulfer constrói universos singulares, complexos e intuitivos que combinam instalações, esculturas, pinturas, performance, música e arquitetura. Trabalha com técnicas muito simples, que por vezes se aproximam do artesanato, e com materiais reciclados. Com esta exposição o Fórum transforma-se num mundo de sonho, num lugar que é simultaneamente um espaço de uma experiência física e uma viagem no tempo e na imaginação. A exposição resulta de uma residência que Pulfer realizou no Moinho da Fonte Santa, em Redondo, a casa onde viveu e trabalhou o artista suíço Michael Biberstein (1948-2013) bem como no seu atelier em Alandroal. A partir da memória deste artista, Pulfer utilizará o seu atelier, os seus utensílios e métodos como alguém que se apropria da sua história e a quer rescrever.

 

No piso 2 do Fórum estará patente a mostra Michael Biberstein: Realidade Suspensa, com curadoria de Reto Pulfer. Durante a sua estadia no atelier de Michael Biberstein (Solothurn, Suiça, 1948 – Redondo, Portugal, 2013) Reto Pulfer pôde trabalhar com as ferramentas, os materiais e mesmo com as telas abandonadas e empilhadas num canto pelo artista. Aqui, Pulfer deparou-se igualmente com um conjunto de obras, umas terminadas, outras deixadas em suspenso, que mostram uma afinidade inusitada entre a prática dos dois artistas. Esta situação de uma realidade que é deixada inacabada levou-o ainda a refletir, nesta exposição singular, sobre o processo artístico e sobre o ‘incompleto’ como possibilidade de uma nova categoria estética.