Em 2012, um estudo do Instituto Superior Técni­co de Lisboa, com resultados surpreendentes sobre as águas termais de Cabeço de Vide, levou um investigador da NASA até à vila alentejana.

As condições hidro­geológicas e o incomum pH da água (11,5) fizeram que regres­sasse mais duas vezes para con­tinuar a recolher amostras das termas e do solo, de forma a com­pará-las com as caraterísticas de Marte. «A geologia entre ambos é muito semelhante. E por isso está a estudar-se a possibilidade de estes ambientes serem propícios ao desen­volvimento de micro-organismos», explica Luís Rocha, diretor técnico das Termas da Sulfúrea, que fez parte do projeto.

Passaram quatro anos desde a primeira vi­sita da NASA, mas a história ainda é contada com orgulho pela população, ou não fossem as termas um dos cartões-de-visita desta fregue­sia de Fronteira. Os romanos descobriram-nas muito antes, é certo.

Logo à entrada da vila, depois de o car­ro cruzar um túnel de árvores, surge o novo balneário das águas termais, construído em 2007 para substituir o primeiro, de 1855, cuja estrutura ainda se encontra por cima das an­tigas termas romanas. E se em Roma se aconselha a ser romano, em Ca­beço de Vide o conselho é o de usu­fruir das águas termais até novem­bro. «Têm cerca de 3500 anos, são sulfúreas, hiperalcalinas e têm ca­raterísticas únicas no mundo. Funcionam co­mo uma espécie de medicamento natural para problemas respiratórios, dermatológicos, reu­máticos», conta Maria Antónia Nave, diretora clínica das termas.

É por ela que passa quem procura os benefícios prolongados daquelas águas, já que os tratamentos de 7 ou 14 dias requerem avaliação médica prévia. «Quem quiser usu­fruir das termas pelo bem-estar, também o pode fazer por um dia ou dois, embora sem re­sultados», explica. Clínicos, entenda-se.

Há 32 salas de tratamentos, piscinas com e sem água termal, banhos de hidromassagem, a jato e massagens. Nestas últimas utiliza-se um creme à base de água termal, mas já há ou­tro produto a caminho com a mesma fórmula: um sabonete da água sulfúrea, preparado por Ana Paula Leitão, antiga técnica de farmácia. É na Casa das Artes e Ofícios que a vamos en­contrar mais tarde, mas antes impera outra terapia: a da gastronomia alentejana.