Neste domingo de madrugada, mais precisamente às 2h00, o relógio é atrasado uma hora, passando a ser 1h00 da manhã. Nos Açores a mesma mudança acontece à 1h00 e passa a ser meia-noite. A hora legal muda do regime de Verão para o de Inverno. E tudo começou com uma ideia que nasceu na cabeça de gente madrugadora que se lembrou que a luz do sol era gratuita, pelo que era preciso aproveitá-la. A prática tem 100 anos em Portugal e no mundo.

Benjamin Franklin terá sido o primeiro a verbalizar a ideia, em 1784. Houve um dia, numa estada em Paris, que este cientista, inventor e político americano, foi acordado do seu sono por um barulho. Eram 6 da manhã, constatou. Espreitou para fora e reparou que o sol já tinha nascido, mas que todos, ao contrário de si, ainda dormiam. Ocorreu-lhe que, ao estarem na cama, estavam a desperdiçar a económica, aliás, gratuita, luz natural do sol.

Apressou-se a tornar a sua ideia pública. No seu Ensaio sobre poupança da luz solar, publicado no Journal de Paris, advogou que havia que mudar a hora, para rentabilizar a luz solar. No seu artigo faz elaborados cálculos sobre a quantidade de velas que seriam poupadas, se as pessoas se levantassem mais cedo e fossem para cama também mais cedo.

Propôs aliás, de forma irónica, medidas muito concretas para pôr toda a gente em sintonia com o aparecimento e desaparecimento do astro-rei. A saber: “Assim que o sol nascer, todos os sinos de todas as igrejas devem tocar e, se isso não foi suficiente, devem ser disparadas balas de canhão em todas as ruas, para acordar os preguiçosos e levá-los a abrir os olhos em seu próprio benefício.”

Ao mesmo tempo, o autor defendeu que, mal o sol se pusesse, era importante que as actividades parassem. “Depois do pôr do sol os guardas devem impedir a circulação de todas as carruagens nas ruas, à excepção de médicos e parteiras.”

1916, a primeira vez

Em 1905 foi a vez de o construtor britânico William Willet (curiosidade: é bisavô do vocalista dos Coldplay, Chris Martin) vir dizer algo parecido no escrito Desperdício de luz solar. Consta que a ideia lhe surgiu depois de uma cavalgada de madrugada, lá está, ainda antes de ter tomado o pequeno-almoço. Constatou então que muitos londrinos ainda dormiam e que desperdício era não estarem a aproveitar tanta claridade. A solução que propôs foi o adiantamento do relógio nos meses de Verão. Passaria o resto da sua vida a defender esta causa. Mas morreria em 1915, um ano antes da sua concretização.

Será na Alemanha e não em Inglaterra que o horário de Verão será adoptado pela primeira vez, a 30 de Abril 1916, adiantando-se os relógios uma hora. A medida seria aplicada por razões práticas em plena Primeira Guerra Mundial: era uma forma de poupar no uso de iluminação artificial e economizar combustível para o esforço da guerra, refere um resumo histórico sobre os 100 anos da hora de Verão no site do Observatório Astronómico de Lisboa.