Faleceu, hoje dia 7 de junho, em Coimbra a artesã estremocense Maria Luísa da Conceição. Tida como uma das maiores referências da barrística estremocense, Maria Luísa tinha 81 anos e faleceu no hospital de Coimbra, cidade onde participava na XIII Feira do artesanato local.
A artesã nasceu em Estremoz em 1934 e desde o seu nascimento tomou contacto direto com o barro, já que o seu pai era neto do fundador da Olaria Alfacinha (1868–1995), Caetano Augusto da Conceição. Mariano da Conceição, seu pai, além de um exímio oleiro, foi quem fez renascer os bonecos de Estremoz, por intermédio de Sá Lemos, diretor da Escola de Artes e Ofícios de Estremoz, obtendo os conhecimentos para tal de uma velha bonequeira chamada Ana das Peles. Depois da morte do pai (1959), foi a sua tia Sabina Santos quem tomou em mãos a continuidade da tradição bonequeira, e a sua mãe, Liberdade da Conceição, um ano depois, decide também ela começar a modelar. Aos 6 anos, Maria Luísa ajudou pela primeira vez a sua mãe a pintar, quando esta preparava um conjunto de bonecos para irem para a Exposição do Mundo Português, em 1940. Mais tarde, já nos anos 80, após a tia Sabina se reformar, Maria Luísa da Conceição ocupa a antiga oficina desta na Rua Brito Capelo, deixando de fazer os bonecos na sua cozinha, como até aí tinha feito. Começa, então, de forma mais sistemática, a reproduzir os bonecos que tinha visto gerações da sua família fazerem. Em 1991, recebeu o 1º Prémio para a melhor peça de artesanato, e em Janeiro de 2007 o 1º prémio para melhor peça na Exposição de Presépios, promovida pelo Museu de Viana do Castelo.
Deste 2007 possui a Carta de Reconhecimento de Artesãos do Concelho de Estremoz.
Em Agosto de 2008, a Câmara Municipal de Estremoz homenageou-a com a Medalha Prata de Mérito Municipal.
Em 2013, Maria Luísa da Conceição, disse ao ‘E’ que a peça de que mais gosta é a Senhora dos Bons Livros: «São quarenta e cinco centímetros de altura e exige muita modelação”.
O corpo da artesã encontra-se na Capela do Anjo da Guarda, frente à estação dos CTT, em Estremoz, donde sairá o funeral, às 10 horas de amanhã, segunda-feira, dia 8, para o cemitério de Estremoz.
Está mais pobre a barrística estremocense. À família enlutada e em especial ao seu filho Jorge da Conceição, ‘E’ endereça sentidos pêsames.
Morreu
uma
artista.
Morreu
a
Dona
Luísa!
Quando
uma
artista
morre
o
mundo
respira
mais
devagar,
a
lua
encolhe-‐se
de
dor
e
as
árvores
deixam
cair
os
seus
braços
desalentadas
sem
saber
o
que
fazer.
Quando
uma
artista
morre,
os
pássaros
ficam
mudos
e
as
ondas
uivam
na
praia
e
as
pessoas
fazem
só
aquilo
que
podem,
chorar.
A
morte
sempre
dói.
Quando
aquele
que
foi,
aquele
que
já
não
sente,
somos
nós
que
sentimos
por
ela,
por
ele,
uma
dor
elevada
ao
cubo.
Uma
dor
atroz
de
tristeza
e
de
impossibilidade
de
dizer,
não
te
vás
ainda
embora,
espera
mais
um
pouco
por
favor,
ainda
não.
Dói,
pois
dói!
Mas
se
é
a
morte
de
uma
pessoa
que
aos
oitenta
e
um
ainda
carrega
o
carro
de
bonecos
e
guia
centenas
de
quilómetros
sozinha
porque
acredita
na
sua
arte,
no
seu
dever
de
mostrar
ao
mundo
a
beleza
do
que
faz,
a
maravilha
da
vida
em
miniatura,
o
talento
da
sua
terra,
então
a
dor
é
máxima,
é
extrema.
Não
há
direito!
Nunca
há
direito
para
essa
velhaca
da
gadanha.
Sempre
é
ela
que
manda.
Não
obedece
sentimentos,
lógica
ou
subornos.
Ás
vezes
conseguimos
enganar
o
tempo
mas
nunca
a
gadanha.
É
mais
firme
a
sua
sentença
que
a
de
um
juiz
do
tribunal
supremo,
porque
em
realidade
é
a
morte
o
único
que
há
decerto.
A
Dona
Luísa
era
levada
da
breca
e
defendia
a
sua
terra
como
ninguém.
Embaixadora
plenipotenciária,
não
fosse
alguém
dizer
mal
da
região
que
ela
o
punha
a
pau.
Calor
ou
frio,
não
fazia
mal.
Os
bonecos
apareciam
na
mesa
de
trabalho
já
fardados
com
as
cores
da
família
Conceição
como
se
fosse
o
exército
de
Napoleão
à
moda
de
Estremoz.
Fazia
uma
carne
enrolada
com
molho
verde,
de
salsa,
cujo
segredo
guardava
tão
zelosamente
como
as
misturas
das
cores
dos
seus
bonecos.
Tinha
os
melhores
limões
do
mundo
e
as
suas
guerras
com
o
grande
limoeiro
lá
do
quintal
davam
que
falar,
mas
o
limoeiro
só
respondia
dando
limões.
Amava
o
seu
trabalho
e
amava
Estremoz.
Mas
agora
já
não
está.
Bendita
seja
e
que
descanse
em
paz.
Esteja
donde
esteja
vai
com
certeza
ensinar
os
anjos
a
pintar
à
moda
da
terra,
vai
conseguir
que
o
céu
se
pareça
um
bocadinho
mais
a
Estremoz.
António
Verdasca-‐Cardoso
Barcelona,
Espanha.
Faleceu uma grande Senhora que deixa muito mais pobre o nosso já pobre artesanato.
Lá onde estiver, será a Raínha dos mestres, com o seu sorriso e maestria.
Nós por cá, ficaremos para sempre mais sós, e com imensas saudades.
Um beijo muito grande.
Artur e Conceiçao